Fazenda Santa Escolástica

Na transição do ciclo econômico cafeeiro para a cana-de-açúcar, que no início do século XX já passara a ser a atividade dominante no município de Araras, a área compreendida pela Fazenda Santa Escolástica passa a ser cogitada para receber instalações do Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA), autarquia federal voltada ao estudo da ciência agroindustrial do açúcar no Brasil.

Fazenda Santa Escolástica.
Acervo
UFSCar.

Sobre a Fazenda Santa Escolástica, os pesquisadores da UFSCar, campus de Araras, o Prof. Dr. Luiz Antonio Norder e o discente Gustavo de Andrade Poyares, apresentam considerações relevante sobre ela e algumas transformações até ser o espaço universitário de agora:

Histórico da Fazenda Santa Escholástica (Araras, 1848-1925)

Luiz Antonio Norder ­
(Professor do Departamento de Desenvolvimento Rural da UFSCar, campus Araras-SP. Email:
luiz.norder@ufscar.br)


Gustavo de Andrade Poyares
(Discente do Curso de Bacharelado em Agroecologia da UFSCar, campus Araras-SP. Email:
guandradedm@hotmail.com)


Em meados do século XIX, o Alferes da Guarda Nacional, delegado de polícia, fazendeiro e político Joaquim Franco de Camargo, um opulento e poderoso morador de Limeira, era detentor de mais de dezoito mil hectares na região, incluindo o Sitio Montevideo, em Araras, que somava, aproximadamente, oito mil hectares. Em 1861, o Sítio foi dividido entre seus herdeiros – e uma das parcelas foi transferida para José Silveira Franco, casado com Escholástica Silveira Franco. O casal teve dois filhos: Joaquim Franco de Camargo Junior e Cândida Silveira Franco. Delineava-se então a Fazenda Santa Escholástica, com quase 900 hectares.

Outras parcelas do antigo latifúndio foram herdadas por duas filhas do Alferes, Manoela e Clara, casadas com seus primos, os irmãos Bento e José de Lacerda Guimarães, que viriam, anos depois, a receber os títulos de Barões de Araras e de Arary. Posteriormente, uma das filhas de José de Lacerda Guimarães, Maria das Dores, viria a se casar com Joaquim Franco de Camargo Junior, seu primo, herdeiro da Fazenda Santa Escholástica. Assim, parte da Fazenda acabou sendo aquinhoada por esta filha do Barão de Arary. Os descendentes do Alferes Franco detinham, portanto, a Fazenda Santa Escholástica e várias outras propriedades em Araras e região.

Naquela época, a Fazenda Santa Escholástica produzia, principalmente, café e cana-de-açúcar com base no trabalho de mais de 70 pessoas escravizadas. Após a Lei do Ventre Livre, em 1871, houve o nascimento 62 crianças juridicamente livres, mas com mães que permaneciam cativas. Adelaide Emília, também escravizada na Fazenda, batizou cinco dessas crianças – e outras sete em diferentes fazendas da vizinhança. A mortalidade infantil, entretanto, era de 45%.

Em um contexto de intensos protestos abolicionistas, enfrentamentos, rebeliões e fugas em massa, Escholástica Silveira Franco e seu filho Joaquim, da mesma forma que vários outros fazendeiros, anunciaram, em julho de 1887, a alforria de 76 pessoas escravizadas na Fazenda. Todavia, era uma alforria condicional: exigia-se que os ‘libertos’ permanecessem ali trabalhando mediante uma modesta remuneração, caso contrário a alforria seria cancelada. Nove meses depois, em 8 de abril de 1888, houve a Abolição no município de Araras – cinco semanas antes do 13 de maio.

Duas edificações do século XIX foram parcialmente preservadas: a sede e o engenho/senzala. Em 1925, a Fazenda Santa Escholástica foi vendida para Luiz Del Nero, um empresário de origem italiana, e subdivida onze anos depois, passando a contar com sua dimensão atual de 230 hectares. Em 1953, a propriedade foi adquirida pela Prefeitura Municipal e logo em seguida transferida para o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Em 1991, passou a sediar o campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).